sexta-feira, 18 de setembro de 2009

.: Nesses Tempos :.

Jurei mentiras e sigo sozinho

Assumo os pecados

Os ventos do norte não movem moinhos

E o que me resta é só um gemido,
Minha vida, meus mortos

Meus caminhos tortos

Meu Sangue Latino e minh'alma cativa...
Rompi tratados e traí os ritos

Quebrei a lança e lancei no espaço

Um grito, um desabafo...
E o que me importa é não estar vencido

Minha vida, meus mortos

Meus caminhos tortos

Meu Sangue Latino e

Minh'alma cativa...

"in sangue latino"

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

.: Classificados :.

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais.
Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere.
Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.



P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

domingo, 30 de agosto de 2009

.: pós aurora :.

Noite assim, inteiras, intensas e solitárias.
Dias que vão e vem a espera de outras noites inteiras assim.
Quero a sua língua presa na minha,
Desfaça todos os seus sonhos de antes e misture-os agora com os meus.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

.: Da Inquietude :.

"Quis um poema que te dissesse,
Quis tempo novo para te dizer
Uma palavra que enlouquece,
Que oferece vida e faz morrer.

Amor, amor, teu nome antigo,
Teu nome breve e tão eterno,
Primavera agora,Verão amigo,
Amor, amor, sol de Inverno.

Procurei tantas madrugadas,
Encontrei manhãs para respirar,
Encontrei palavras caladas,
Encontrei amor para te cantar."

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

.: por vezes :.

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

.: de saudade :.

"Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses todo nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti..."

Florbela Espanca

domingo, 26 de julho de 2009

.: Você para falar de nós :.

Você não perguntou se eu podia, ou se devia.
Você não me diminuiu para se sentir mais forte.
Você não se escandalizou com a mentira; eu não completei a verdade.
Você não pensou no futuro, não pesou as conseqüências, não penou antes da hora.
Você não se protegeu do que desconhecia.
Não alertou que sofreria comigo, e que depois não sairia ilesa.
Você não me forçou a adivinhá-la.
Não apelou para o bom senso.
Você não me inventou, muito menos queimou o rascunho.
Você não me ameaçou com gentilezas.
Não me incriminou com seus temores, não explicou seus traumas.
Não se fez de vítima como se eu estivesse atacando.
Não, você me carregou nos ombros pela cintura. Os dois dedos dentro do meu cinto empurrando a dança.
Não me solicitou prova, testemunhas, sinais.
Não emprestou a Deus o que acontecia em segredo.
Não me julgou por antigos amores.
Não me condicionou a amar como estava acostumada.
Não esperou que eu pronunciasse o que vinha escrito em carta.
Você me olhava com os cabelos.
Você não pediu fiança, recompensa, para se entregar.
Você veio com a roupa do corpo, com o corpo ainda sem culpa.
Você me fechou em suas pernas e deixou a porta aberta do quarto.
Você me exilou no desejo para me repatriar aos poucos.
Você esqueceu as janelas chiando na cozinha.
Você foi incapaz de me constranger quando desisti de responder.
Você não me incitou a casar contigo, não me incitou a namorar.
Você não isolou minhas frases, não alegou que era uma fase.
Você me perdoou como se não existisse.
Você me fez existir para que perdurasse.
Você não me reclamou distante, não cobrou que mandasse notícias.
Você desaparecia quando desaparecia e voltava quando voltava.
Você me afirmava quando me confundia.
Você segurava a nudez para que subisse.
Você não me comparou a ninguém, muito menos aquilo que já fui.
Você não me subornou com a infância ou com o medo da morte.
Você não explorou meus segredos para usá-los.
Você não quis que falasse para preencher as falhas.
Você arredondou os defeitos pela pressa de cuidá-los.
Você foi generosa com os meus ouvidos, confiando mais no vento do que na palavra.
Você me permitiu.
Você me entendeu ao não entender.

Você não teve nada a ver comigo - finalmente eu não me repetia.

.: A vida como ela é :.

Era manhã cedo na vila e o comboio apitava na estação vomitando nas plataformas mulheres apressadas e homens distraídos. Mas aquele não era um comboio qualquer porque era um comboio especial. De todos os comboios que conheço era provavelmente o mais especial que havia. Vinha dos mesmos lugares que os outros e ia para os mesmos lugares que os outros. Mas era especial no meio de todos porque nenhum ambicionava nada enquanto aquele ambicionava tudo. E o seu maior sonho era ser um barco e navegar pelos mares.
Era manhã cedo na vila e o comboio apitava na estação vomitando nas plataformas mulheres apressadas e homens distraídos. E no alto daquele prédio cor de tempos passados, uma varanda tímida espreitava as mulheres que passavam, apressadas, e sentia o íntimo desejo de ter nascido como elas, mutantes, velozes, portáteis!
E sempre que era manhã cedo na vila e o comboio apitava na estação, varanda e comboio trocavam sonhos e desejos vivendo entre os dois a partilha de uma fantasia que os transformava respectivamente em barco e mulher à deriva pelo rio. E riam-se da pressa das mulheres e da distracção dos homens que não percebiam nada e que não aproveitavam os barcos e os mares para fugir ou para sonhar!
Desta rotina nasceu obviamente um amor enorme da varanda pelo comboio. E quando ele por alguma razão não vinha, a triste varanda perdia-se em divagações românticas e em ciúmes enlouquecidos, imaginando que o comboio era finalmente um barco e que alguma daquelas mulheres que ele transportava tinha descoberto o caminho direto para o seu coração... Aquele sofrimento era feroz e durava até à próxima manhã em que, cedo, a buzina ecoava pela estação. Só os pássaros que por ali pousavam testemunhavam estes desvarios e por toda a cidade já se comentava a loucura da varanda que não percebia que era apenas uma varanda!
Os tempos foram passando, o comboio foi fazer outras paradas e deu por si a fazer a linha da orla, ao lado do rio, e acabou mesmo por se esquecer que era comboio para se convencer que era um grande e forte barco, porque só via água!
Quanto à varanda, essa foi enlouquecendo sozinha à medida que percebeu que nunca seria mulher. A última vez que soube dela estava apaixonada por uma gaivota que ainda por cima só abusou da sua boa vontade. Hoje quando lá passo ainda olho para cima mas é raro a varanda reagir. Perdeu o juízo e agora vai deixando cair pedacinhos de si quando passa alguma mulher. Queria confortá-la mas não sei. O meu forte nunca foi varandas.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

.: Diferente eu não quero :.

Nha
tanta coisa eu tenho pra escrever aqui que poderia ficar horas enumerando suas qualidades, falando dos seu dons, dos seus talentos da sua sensibilidade e principalmente da sua capacidade de ser sempre uma criança...
... esse foi meu primeiro aniversario longe casa, eu senti muita vontade de o primeiro abraço desse meu dia fosse como nos antigos tempos, quando a mãe me abraçava na cozinha com o café da manhã pronto, logo em seguida em abraço mais timido do pai enquanto prepara a agua e o café para ir para o serviço, logo depois vinha voce com seus pijamas coloridos, sorrindo e dizendo: "feliz aniversário LEEEEE"... esse foi o presente que eu mais queria ter ganhado no dia 31, mas eu sei que ele ta ai guardado e eu vou ai buscar...

A vida me colocou um poquinho longe de casa, ops ai nunca foi uma casa, entao eu corrijo, a vida me colocou um pouquinho longe do nosso lar, coisa geografica apenas porque o meu coração sempre esteve ai com voces... e eu só estou fazendo isso pra um dia a gente ficar todos junto dinovo... agora neste instante eu estou muito feliz, embora nao possa negar que estou chorando, mas é uma lagrima doce, muito doce, lagrimas feitas das lembranças boas que só quem tem uma familia de verdade como nós é que pode entender o quanto foi e o quanto é bom ser um MARQUES RODRIGUES, né ?
quanta lembrança... lembro da gente esperando o portão da escola se abrir, lembro do dia que os meninos e as meninas da escola puderam enfim brincar juntos novamente simplesmente por que a gente nunca se deixou separar nem pela linha imaginavel que colocava os meninos na quadra e as meninas no gramado, ora, quem ia manter amarrado o laço de fita do seu vestido que sempre insistia em se soltar com o vento e brincar com seu cabelos.

Lembro da mãe preparando torrada todos os dias de manhã para colocar a gente na perua da escola, e como era cedo aquelas manhãs, ela me botava a meia, as vezes nos fazia dormir com calça de ir pra escola, pois os dias estavam muito frios, o dia que nao tinha pão fazia torrada de bolo, você lembra ? e ainda tinha o lanche que a gente sempre comia na volta da escola.
lembro do pai que sempre foi pai, até hoje mesmo cansado não nega passar o domingo trabalhando, faz questão da sua cerveja, e de seus filmes, que heroi esse homem, sei que tudo isso ele faz que a gente nao tenha a vida que ele teve, isso ja ouvimos varias vezes, mas de verdade mesmo, o que eu queria é ser sempre igual a ele....
o cidinho nem precisa falar muito né ? o ser danado aquele... nao cansa nunca da vida, nao perde nunca o humor e ta sempre sorrindo e fazendo a gente sorrir...
ta vendo quanta coisa simples? quanta coisa nossa. quanta coisa boa.
É a minha familia, é a minha vida é a coisa que eu mais AMO.

obrigado tá

Julho de 2008